Muito se fala em negacionismo, atualmente. O protagonista é o senhor presidente da República, que diz não às vacinas, não aos números de casos de contaminação por coronavírus e de incidência de óbitos, além de outras negativas que insiste em repetir em relação à pandemia.
Pois agora chegou ao desplante maior. O presidente diz não às coisas que ele próprio já dissera. O embate incabível com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é prova disso. Repetidamente o presidente vem a público refutar e tentar desconstituir o excelente trabalho dos cientistas da entidade, que é responsável pelo controle de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, sejam medicamentos, alimentos, cosméticos ou serviços de saúde.
A Anvisa é uma autarquia de regime especial, criada por lei, que dispõe de patrimônio próprio e tem a missão de realizar atividades típicas de Estado, com autonomia e descentralização. É uma agência reguladora e isso basta para conceituá-la e explicar a razão de sua existência.
O presidente jogou sobre os responsáveis pela Anvisa toda a sua intolerância com o que não corresponde ao seu modo de pensar. Em relação ao trabalho daqueles que estão à frente da Anvisa, alinhou uma série de infundadas suspeitas quando insinuou que interesses escusos orientariam as decisões em torno da produção de vacinas.
A resposta veio forte e muito bem lançada, em carta que lhe endereçou o presidente da Anvisa. Há uma correta cobrança por uma retratação. Então, dizendo-se surpreso ante o protesto do titular da Anvisa, foi negativa a manifestação que o presidente da República usou para responder, pretendendo dizer que não ofendera a ninguém e que não entendia aquela reação dos cientistas da agência que existe justamente para regular todas as atividades sanitárias aplicáveis ao enfrentamento à pandemia.
O presidente da Nação disse não ao seu próprio discurso. Pois, agora, o que se espera é um rotundo não, como diria Leonel Brizola, à série infindável dos nãos que o presidente gosta muito de dizer.