Reconhecidas Brasil afora, Unisinos e Feevale unem forças em busca de um desafio em comum: qualificar a educação básica - da educação infantil ao ensino médio - para estimular o desenvolvimento regional. Na semana passada, ambas instituições anunciaram uma aproximação com este intuito. Apesar de já atuarem em "fóruns" e projetos comuns, como no Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung) e o Pacto Alegre, o fato é considerado histórico pelos próprios reitores.
"A pandemia agravou a condição educacional e a retomada precisa de cada vez mais pessoas capacitadas. Estamos atentos a isso", analisa Prodanov. O reitor da Unisinos relata que os dois anos de restrições causadas pela crise sanitária atingiram fortemente a educação e a sociedade. "No Brasil, temos um forte impacto em toda educação básica, com cerca de 5,5 milhões de crianças sem acesso e com risco de evasão. No ensino superior, em torno de 3,6 milhões evadiram. Isso atinge o orçamento de universidades, mas o impacto na sociedade é muito maior", expõe Mariucci.
Prodanov destaca que o déficit educacional afeta na formação de mão de obra qualificada, freando a inovação e o desenvolvimento regional. "Queremos que o Vale do Sinos não seja só o vale das empresas, da industrialização, mas de pessoas capacitadas e focadas no mercado de trabalho para o século 21", conceitua. Realidade que atinge a todos no atual cenário.
De acordo com Mariucci, apenas no Parque Tecnológico da Unisinos (Tecnosinos) há duas mil vagas de emprego abertas que não são preenchidas. "Faltam idioma e qualificação. Então, a evasão da educação básica e da universidade resulta nisso. Que vai refletir na produção, na economia. É um problema grave", alerta.
Apesar de a definição do programa a ser desenvolvido ainda ser algo incipiente, algumas diretrizes norteiam as intenções das universidades. O foco será trabalhar na qualificação da educação básica, com ações para dar suporte a professores e alunos. Mas para isso, a ideia é sensibilizar e ouvir lideranças políticas da região e do Estado, além de representantes do setor empresarial e de entidades de classe.
"Devemos começar com apoio às prefeituras na qualificação dos professores e no apoio à educação básica. Mas nossa meta também é olhar a formação técnica e profissional. Evidentemente, nem todas as coisas serão feitas ao mesmo tempo", acena o reitor da Feevale.
Mariucci antecipa que o plano deve ser apresentado aos candidatos a governador do Estado. "Queremos gerar uma pauta positiva com o poder público. Também vamos trabalhar com as lideranças municipais. Pode ser que no próximo semestre a gente tenha condições de iniciar alguma ação", cogita.
Apesar das duas instituições focarem no mesmo mercado, Prodanov cita que ambas não se veem como concorrentes, o que favorece a aproximação. "Somos complementares. Existe algum sombreamento, mas a opção do aluno de estudar lá ou aqui é pessoal. Concorrentes são outros que muitas vezes vêm aqui, não fazem nenhum trabalho com a comunidade e só querem as matrículas, o que não é o caso da Feevale e Unisinos."
Mariucci concorda e acredita que o atual movimento pode significar o começo de um ambiente de maior cooperação. "Temos um vale muito próspero, com perfil de estudantes com capacidade de inovação. Não podemos correr o risco de evasão destes talentos. Precisamos fixá-los aqui", defende.
O reitor da Unisinos vislumbra algumas ações voltadas ao aperfeiçoamento de professores. "A reputação do professor precisa melhorar na sociedade. São vários elementos que integram isso. Vai na linha da licenciatura, possibilidades de aprimoramento, qualificação e atualização, mediante a novos processos de ensino e aprendizagem."
No entanto, Prodanov pondera que as ações recém estão sendo planejadas e não há um cronograma definido para lançá-las. "Estamos desenhando, vendo o grupo de trabalho, que parceiros conseguimos reunir, que recursos a gente consegue alocar para desenvolver um trabalho mais contínuo."
Em relação ao custeio de eventuais ações, Prodanov afirma que as universidades têm um poder de realização, mas precisarão de parceiros. "Evidentemente, a ideia é envolver todos os atores para pensarmos a educação como uma questão primeira e isso vai envolver financiamento, vai passar pela captação de recursos, por uma série de questões."
Além de integrarem o consórcio de universidades comunitárias, as duas instituições são parceiras no Pacto Alegre, iniciativa que tem como proposta transformar a capital gaúcha em um ecossistema global de inovação.
Mariucci lembra que esta parceria contribuiu para a aproximação em prol do Vale do Sinos. "A gente pensou em fazer algo parecido aqui também em relação à inovação. Entretanto, o efeito devastador da pandemia compromete a inovação. Porque sem educação não há inovação. Então, fizemos este direcionamento."
A aliança das duas instituições é vista com ótimos olhos por representantes de entidades. Presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos (Amvars), o prefeito de Dois Irmãos Jerri Meneghetti é um dos entusiastas. "São as duas maiores instituições de ensino da região engajadas num problema nacional. Se a gente ouvir o mercado, a queixa principal é a falta de mão de obra qualificada. Isso é fundamental para impulsionar o desenvolvimento."
Quem também aplaude a iniciativa é o presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha (ACI NH/CB/EV), Diogo Leuck. "Se não realizarmos esta integração entre os entes que são educadores e aqueles que demandam, vamos precisar de mais tempo para crescer", afirma. Ele destaca que a própria ACI irá criar um comitê de educação, com a participação das universidades e diversos segmentos, com o intuito de indicar necessidades que precisam ser atendidas pelo ensino.
O presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia de São Leopoldo, Felipe Feldmann, ressalta que a iniciativa vem ao encontro das conclusões apontadas no bloco temático Educação da entidade, publicado ano passado. "Ficou evidente a necessidade de mais atenção e investimentos no ensino básico."