O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luís Roberto Barroso criticou o que considera um movimento político com a intenção de usar as Forças Armadas para atacar o processo eleitoral no País.
Barroso voltou a defender a integridade das urnas eletrônicas e condenou tentativas de politização dos militares. Ele ressaltou que as Forças Armadas devem resistir, como já têm feito, a serem objeto de "paixões políticas".
O ministro destacou, ainda, as trocas promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro no governo. "Até agora o profissionalismo e o respeito à Constituição têm prevalecido (nas Forças Armadas). Mas não deve passar despercebido que profissionais respeitadores da Constituição foram afastados, como o general Santos Cruz, o general Maynard Santa Rosa, o general Fernando Azevedo. Os três comandantes das Forças foram todos afastados. Não é comum isso", disse o ministro a uma plateia de estudantes.
Em cerimônia do Dia do Exército, na semana passada, Bolsonaro afirmou que as Forças Armadas "não dão recados" e "sabem" o que é melhor para o povo. "Não podemos jamais ter eleições no Brasil sobre as quais paire o manto da suspeição", disse ele.
Como presidente do TSE, Barroso convidou representantes das Forças Armadas para participar da Comissão de Transparência, que analisa o processo de apuração eleitoral e o uso das urnas eletrônicas. "Todos nós assistimos a movimentos para jogar as Forças Armadas no varejo da política. Isso seria uma tragédia para a democracia e para as Forças Armadas", disse o ministro. "Desde 1996 não há um episódio de fraude no Brasil. Eleições totalmente limpas e seguras e auditáveis. E agora se vai pretender usar as Forças para atacar o processo e tentar desacreditá-lo."
Questionado sobre o caso do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelo STF, mas perdoado por Bolsonaro, Barroso não comentou.
'Grave'
O ministro evitou citar o nome de Bolsonaro, mas mencionou a participação do presidente em atos antidemocráticos. "Tivemos momentos graves na experiência recente brasileira, com a participação do presidente da República em um comício na porta do QG do Exército pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal", disse. "Eles (militares de Roma) não entravam com as suas tropas nos espaços do poder civil", afirmou. "Portanto, um desfile de tanques na Praça dos Três Poderes é um episódio com intenção intimidatória."