Uma igreja não é um amontoado de tijolos com torre, sino, altar e imagens sacras. Uma igreja é feita de suor, amor e fé. São as pessoas que dão vida a um templo. E nesta quinta-feira (6) a comunidade religiosa mais antiga de Novo Hamburgo completa 190 anos. Não há como falar da história da cidade e da imigração alemã e não mencionar a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Hamburgo Velho.
O fluxo de alemães ao Estado, que começou em 1824, se acentuou ao longo dos anos subsequentes, formando Hamburgo Velho. Apesar de não se saber com exatidão a data do surgimento da comunidade evangélica, convencionou-se 6 de janeiro de 1832 porque um ano depois, em 6 de janeiro de 1833, foi construído o primeiro templo, no mesmo lugar onde ainda hoje fica a Igreja Três Reis Magos - atual templo da IECLB na esquina da Rua General Daltro Filho com a Travessa Julio Kunz.
Aproximadamente R$ 150 mil em recursos da própria comunidade foram investidos para recuperar o telhado e o instrumento musical. Cerca de duas mil pessoas integram a comunidade. "Temos um grupo fiel de pessoas que contribui para manter tudo aqui", agradece Werling.
O pastor Werling destaca a tradição das comunidades de confissão luterana de criar sempre de construir uma escola e uma igreja nos locais onde se instalava. “Por isso, que sempre tem uma escola perto de uma igreja luterana.” Para o pastor, este exemplo demonstra que fé e ciência podem conviver em harmonia. “Não podemos esquecer a valorização da fé e do conhecimento. A ciência é fundamental, mas ela é determinada por homens, e homens são determinados por fé em alguma coisa ou não.”
Para ele, a dedicação dos antepassados é um legado que deve servir de inspiração para a comunidade. “Mesmo com toda dificuldade da época, eles não abriram mão destes valores, destes pilares, mesmo em tempos de crise. E hoje muitas comunidades mal conseguem se manter”, lamenta.
Como destaca o pastor, uma comunidade de 190 anos não chega lá sem enfrentar crises. A mais recente foi a pandemia, que obrigou o fechamento do templo em março de 2020, com reabertura em setembro daquele ano. A forma para manter o vínculo com os fiéis foram as transmissões via rede social, prática mantida até hoje.
“Algumas pessoas da comunidade ainda têm receio de vir e outras são idosas, têm dificuldade de locomoção. A tecnologia ajudou a gente se aproximar de todos, até de gente que nem mora mais aqui”, celebra Werling. “E é uma forma de mantermos o vínculo com a comunidade”, acrescenta Schneider.
A restauração começou em outubro pelas mãos do organeiro argentino Adrián Terraza, com o apoio do pianista venezuelano Adrián Peraza. Cabe a um organeiro construir e consertar órgãos. Terraza começou a aprender o ofício aos 13 anos num mosteiro beneditino de Rosário. De lá para cá estudou com referências da área no país natal e na Itália, se tornou mestre de música pela Ufrgs e também organista. Ou seja, ele também sabe tocar o instrumento. Por isso, se apresenta no concerto.
O especialista destaca a complexidade do instrumento. "Diferente de um piano, que é um instrumento de corda, este aqui é de vento. Precisa saber combinar os sons. Este órgão tem mais de 800 tubos, que são manejados por diferentes teclados. Este exemplar possui três teclados, mas pode ter até sete. É como se fosse uma orquestra num único instrumento musical."
1822-1824: o primeiro colonizador a se instalar na região de Hamburgo Velho foi Nicolau Becker, abrindo um curtume e uma selaria na região. Em 1824 chegaram os primeiros imigrantes alemães, trazendo a fé de confissão luterana consigo.
1829: 254 colonos da margem direita do Rio dos Sinos solicitaram ao Império a instalação do pastor Friedrich Christian Klingelhoeffer para essa área com os mesmos direitos do pastor Georg Ehlers, que atuava em São Leopoldo desde 1824, com remuneração imperial.
1832-1833: pressupõe-se que a comunidade tenha se organizado de forma mais efetiva no ano de 1832. Na falta de informações mais precisas, a data de fundação da comunidade foi definida como 6 de janeiro de 1832, um ano antes da inauguração do primeiro templo, mas essa conclusão não exclui a possibilidade de a comunidade ser mais antiga.
1835-1845: a Revolução Farroupilha abalou a então Província de São Pedro e a Comunidade de Hamburgo Velho. Durante um conflito, uma bala foi atirada de um canhão para dentro do templo (a munição foi usada como peso de papel por um bom tempo). O pastor Klingelhoeffer participou ativamente da guerra, sendo chamado de pastor Farrapo, e veio a morrer em combate em 1838.
1914-1918: com a 1ª Guerra Mundial, os cultos, que eram em alemão, foram proibidos. Publicações em revistas, jornais e outros periódicos eram permitidos apenas em português. Cessou o repasse de verbas para a escola da comunidade. Ocorreram medidas restritivas contra alemães e seus descendentes.
1939-1945: na 2ª Guerra Mundial foi proibida qualquer língua estrangeira. Os descendentes dos alemães passaram a ser vistos como "nazistas" e foram perseguidos. O pastor Pommer, que atuava na comunidade desde 1937, chegou a ser preso por um tempo. Não houve registros nos livros atas durante esse período.
Fonte: Comunidade Evangélica de Hamburgo Velho